Título: Mascarados
Autores: Esther Solano, Bruno Paes Manso, Willian Novaes
ISBN: 9788581302799
Editora: Geração Editorial
Ano: 2014
Páginas: 336
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Sinopse:
A verdadeira história de como e porque os black blocs invadiram as ruas e o que isso significa para o Brasil. Uma invasão inusitada surpreendeu São Paulo em junho de 2013: misturados aos ingênuos manifestantes que reclamavam de tarifas de transportes, mascarados quebravam portas de bancos e enfrentavam com violência a própria polícia. Quem eram eles?
"Mascarados - A Verdadeira História dos Adeptos da Tática Black Bloc" leva o leitor para dentro das manifestações que tiraram o sono das autoridades do Brasil. Além disso, desmistifica os (pre) conceitos que surgiram desde as primeiras cenas de violência. Preconceitos reforçados pelo noticiário quase sempre parcial e focado na espetacularização da notícia.
Resenha:
Segundo a introdução do livro, seguir uma linha de pensamento de maneira taxativa para entender a vida é um meio de usurpar o direito do outro de ter a sua própria vontade. O objetivo do livro é uma tentativa de desconstruir o mundo que é visto sempre pelo mesmo aspecto. Ou seja, é um meio de evitar que as pessoas sigam sempre um padrão já que isso é considerado um meio de cometer violência.
A obra é dividida em quatro partes. Na primeira, somos conduzidos pela professora de Relações Internacionais, Esther Solano. Ela tem o seu trabalho voltado às pesquisas e, em uma busca desenfreada, visa entender as manifestações e os pensamentos dos integrantes dos Black Blocs. A pesquisa foi realizada no período de agosto de 2013 até a Copa do Mundo de 2014. Solano acompanhou diversas manifestações e ainda teve a oportunidade de conversar com a maioria deles. Ela conta que muitos têm estudo e estes possuem um vasto conhecimento sobre política e diversos ramos. Porém, existem aqueles que participam apenas para ficar na bagunça; todavia, esse número é minoritário.
“Pouco importa minha posição, porém o conhecimento adquirido ao longo desses meses, esse sim, esse é valioso. Quem são estes jovens? O que significa sua presença nas ruas? Por que utilizam a violência como instrumento de manifestação? Como enxergam o Poder Público? Qual é a relação com a polícia?” (SOLANO, p.18).
Bruno Paes Manso toma conta da segunda parte. Ele é formado em economia e em jornalismo e trabalhou por dez anos como repórter no jornal O Estado de São Paulo. O jornalista fala tanto sobre a ascensão quanto sobre a queda do Black Bloc, além de fazer um apanhado sobre as manifestações. A tática usada pelos BB foi um grande precursor para provocar e desestabilizar o governo e as autoridades. Manso deixa isso bem claro em seu trabalho, além de contar como ficou o país durante a Copa do Mundo. As ruas de Fortaleza ficaram repletas de bombas, diversas mortes em Belo Horizonte, fogo no Itamaraty, bem como ondas negras nas ruas do estado do Rio de Janeiro.
Willian Novaes é jornalista e atualmente atua como diretor da Geração Editorial. Seu trabalho foca em mostrar como funcionam as manifestações e como eles agem de modo radical. Eles atuam apenas quando estão com máscaras, sem elas não há batalha, não há luta e nem protesto. A falta de preparo dos Policiais é algo que uma das participantes faz questão de deixar claro ao nosso jornalista e diretor. Eles alegam que quando vê a ação agressiva dos policiais, a alternativa é agir de igual maneira. Novaes declara que muitos deles são estudantes, tem boa formação escolar e moram no centro de São Paulo. Um dos citados é estudante de Direito e foi linha de frente em vários confrontos contra os policiais.
Pode-se observar que essa tática usada pelos Black Blocs está além do que a sociedade chamaria de ignorantes. Muitos têm estudo, são de classe média/alta e sabem muito bem o motivo de estarem agindo daquela forma. Eles enxergam a si próprios como um modelo, uma vanguarda. Para quem não sabe, os BB são descendentes das organizações de “ação direta” que veio à tona na Alemanha e na Itália.
A última parte apresentada consiste em um relato sobre as agressões sofridas pelo Coronel Reynaldo Simões Rossi no dia 25 de outubro de 2013. Não obstante, é feita uma entrevista com ele e podemos nos emocionar com suas palavras.
“As ruas se tornariam o palco de protestos de uma nova geração de insatisfeitos, nascida e crescida em São Paulo, ao mesmo tempo ambientada e saturada pelo caos urbano. Uma geração diferente da minha. Eu faço parte de uma época anterior e por isso me senti muitas vezes incomodado e desafiado quando via essa garotada na rua” (MANSO, p.149).
Na realidade, a obra não é um elogio às táticas dos Black Blocs, tampouco uma crítica. Ela tem como escopo apresentar como as manifestações deles são realizadas. Claro que existem opiniões dentro da obra. Porém, isso não é o que deve ser levado em questão.
Como leitora e observadora desses movimentos, sou completamente contra as ações deles. Eles agem de maneira agressiva e destroem aquilo que chamamos de ruas, bancos, enfim. Porém, não sou contra a manifestação. Os BBs agem com intuito de protestar sobre coisas que estão erradas. Contudo, a sociedade martela nos atos como se eles estivessem matando alguém. Quantos bandidos, criminosos, quantos policiais matam a sangue frio e muitas vezes não repercute dessa maneira?
É citado no livro que mais de 50 mil pessoas são mortas todo o ano. Quem é que se atém a esse dado estratosférico? Preferem se ligar a um movimento realizado por 40 jovens. Eles estão destruindo patrimônios públicos, quer sejam eles de uso comum do povo ou de uso especial. No entanto, muitos ceifam vidas, como o caso do serial killer que assassinou mais de 30 mulheres. E o que acontece? Quer dizer que o patrimônio público tem mais valor do que uma vida? O livro quer nos passar isso de um modo mais implícito.
Fiquei indignada quando recebi um e-mail da Geração Editorial informando que foi proibida a venda desse livro no Metrô de São Paulo e sem motivos plausíveis. A funcionária da equipe de vendas simplesmente alegou que a obra poderia incitar violência. Quer dizer então que livros hots e de terror são liberados para qualquer pessoa comprar? Afinal, um pode atiçar o adolescente a realizar o coito e o terror pode provocar um instinto assassino. Por que não proibir essas veiculações também? Imparcialidade que é bom, nada.
“O que dizer de um rapaz de trinta e três anos, nascido em berço de ouro, dono de seis negócios diferentes, como um restaurante da moda e lojas de sapatos, com investimentos no mercado financeiro, anarquista, de família quatrocentona e adepto da tática Black Bloc? Apenas o calor dos trópicos para explicar tais contradições” (NOVAES, p.211).
A diagramação é perfeita e a capa também. Notei alguns erros de revisão, mas nada que fosse prejudicial à leitura e interpretação. O trabalho dos três autores e da Geração foi algo incrível e muito bem feito.
O livro é uma obra que desperta a sociedade e nos faz enxergar os Black Blocs sem aqueles estereótipos que a mídia tanto inflama. Indico esse incrível trabalho a todos, independente se você gosta do gênero ou não, adquirir cultura nunca é demais e esse livro tem de sobra. Você vai aprender muito, compreender muita coisa e respeitar, o que é muito difícil de as pessoas fazerem hoje em dia.
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