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Resenha: Neuromancer

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Título: Neuromancer
Autor: William Gibson
ISBN: 9788576571919
Editora: Aleph
Ano: 2014
Páginas: 416
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Sinopse:

Neuromancer - No futuro, existe a matrix - uma alucinação coletiva virtual, na qual todos se conectam para saber tudo sobre tudo. Case, porém, não pode mais acessá-la. Ele foi banido e, hoje, sobrevive como pode nos subúrbios de Tóquio. E continuaria a se destruir se não encontrasse Molly, uma samurai das ruas que o convoca para uma missão da qual depende toda a existência da rede. O romance de estreia de Gibson é o primeiro volume da chamada Trilogia do Sprawl, que ainda inclui os livros Count Zero e Mona Lisa Overdrive. Esta edição comemorativa de 30 anos contém os extras - prefácio do autor escrito especialmente para o público brasileiro, três contos inéditos no Brasil e ambientados no universo Sprawl - Johnny Mnemônico, Hotel New Rose e Queimando Cromo (os contos trazem personagens e eventos presentes no livro).

Resenha:

Conhecer a escrita de William Gibson, o homem que revolucionou a ficção científica, era um desejo antigo e que foi realizado em Neuromancer. Porém, eu não estava preparado para a enxurrada que me aguardava e, ao terminar a leitura, eu fiquei mudo, estático, tentando absorver tudo que eu tinha lido. E então eu percebi que não foi sem motivo que a obra ganhou a tríplice coroa da ficção científica, que são os prêmios Hugo, Nebula e Philip K. Dick.

Em Neuromancer, nós conhecemos Case, um cowboy – uma espécie de super-harcker – que, apesar de ser um gênio do crime cibernético, não é tão sensato assim. Ele, ao tentar roubar seu próprio patrão, é descoberto e, como vingança, tem a ligação do seu sistema nervoso com a matrix destruída. Ou seja: sua vida de cowboy fica para o passado.
Case passou a sobreviver como pode pelos subúrbios de Tóquio, ainda com pequenos trabalhos ilegais, obviamente. Porém, sua sorte mudou ao ser encontrado por Molly, uma samurai das ruas; ela propõe um negócio ambicioso e que pode devolver a ele o que mais deseja: conectar-se à matrix e fugir da realidade esmagadora. Contudo, obviamente, nada era de graça.
“Case tinha 24 anos. Aos 22 era um cowboy, cowboy fora da lei, um dos melhores no Sprawl. Ele havia sido treinado pelos melhores, McCoy Pauley e Bobby Quine, lendas do negócio. Na época, operava num barato quase permanente de adrenalina, subproduto da juventude e da proficiência, conectado num deck de ciberespaço customizado que projetava sua consciência desincorporada na alucinação consensual que era a matrix” (p. 33).
Gibson consegue criar, através dessa premissa e dos cantos mais sujos e criminosos do mundo, a ideia de ciberespaço e do que chamamos hoje de aldeia global. A matrix é como uma grande rede – extremamente diferente da internet – onde tudo é possível. A realidade e ilusão consensual coletiva se misturam de uma forma tão perturbadora que, muitas vezes, é quase impossível distinguir uma da outra.

Não satisfeito em apenas revolucionar a ficção científica como conceito, Willian também cria personagens sensacionais. Eles são tão bons que se torna impossível escolher qual o melhor: Case, Molly ou uma inteligência artificial que não posso revelar o nome por motivo de spoiler. Todos eles, inclusive a IA, são completamente complexos, com um passado conturbado e cheio de intenções, além de imprevisíveis.
Além dos bons e complexos personagens, Neuromancer também conta com uma narração bem diferente da maioria dos livros. O primeiro ponto sobressalente são os termos característicos da informática e da matrix, o que torna a leitura mais complexa. Além disso, o autor possui uma escrita que não se entrega completamente, mas que, analisada com calma, apresenta um mundo diferente do tudo que você pode imaginar. Ou seja: ler Neuromancer dá trabalho; dificilmente você conseguirá ler no ônibus ou no metrô voltando do trabalho, mas todo o esforço é extremamente gratificante, pois você passará a enxergar o mundo com novos olhos.
“Programe um mapa para exibir frequência de troca de dados, sendo cada gigabyte um único pixel em uma tela muito grande. Manhattan e Atlanta brilham com um branco incandescente. Então, começam a pulsar: a taxa de tráfego ameaça sobrecarregar sua simulação. Seu mapa vai virar uma supernova. Esfrie o mapa. Aumente a escala. Cada pixel vale agora um milhão de megabytes. A cem milhões de megabytes por segundo, você começa a distinguir certos quarteirões no centro de Manhattan, os contornos de parques industriais de cem anos de idade ao redor do núcleo antigo de Atlanta...” (p. 75). 
Analisando além do nível ficcional, ou seja, da superfície discursiva, podemos verificar uma crítica ou alerta à sociedade sobre o nosso envolvimento com a tecnologia. As perguntas são: até onde é realmente possível ir sem nos tornarmos verdadeiras máquinas? O mundo com uma estrutura que permite uma espécie de alucinação coletiva é realmente algo que desejamos? A fusão homem-máquina realmente é o próximo passo da nossa evolução? As perguntas esperam a reflexão e a resposta de cada leitor.

O livro, como conteúdo, foi irretocável; e a editora Aleph fez o mesmo com a parte física dessa edição comemorativa. O livro está repleto de signos que materializam no papel a linguagem da matrix; além disso, todas as divisórias e capítulos possuem uma diagramação especial. E a audácia da editora, que também deu certo, foi tão longe quanto a do autor: foi produzido um livro “sem capa”, onde o que seria a capa funciona como um box. Simplesmente genial.
Diante da grandiosidade da obra, é impossível não indicá-la. Certamente Neuromancer será um marco na sua vida de leitor. Porém, recomendo: não se espante com a leitura mais árida, o que encontramos no final do percurso vale o esforço.
“– Cara, esse software é muito filho da puta. A coisa mais sensacional desde que inventaram o ao de fôrma fatiado. Esse negócio é invisível, porra” (p. 212).
Outras fotos: 

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