Título: O Morro do Acaso
Autor: Valter Simas
Editora: Chiado Editora
ISBN: 9789895111732
Ano: 2014
Páginas: 188
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Sinopse:
O Morro do Acaso narra a trajetória de Thiago, desde a adolescência à vida adulta. O livro é dividido em cinco capítulos: Efeito Borboleta, Correntezas do Além, Flor de Lótus, Roda-Gigante e Jogando os Dados, cada um tendo como foco um ciclo na vida do protagonista.
Através de uma trama envolvente, repleta de surpresas e com um final emocionante, O Morro do Acaso remete-nos a uma viagem interior na qual a mente humana é concebida como detentora de força própria. Esta não é definida como inimiga, mas a necessidade de tornarmo-nos senhores da mesma é evidenciada.
A meditação e seus benefícios são apresentados ao leitor assim como a noção de que o passado deve ser enterrado, baseado na conclusão de que só o presente existe e no instante repousa a eternidade.
A vida, por sua vez, é descrita como um grande sonho, finita e transitória. Logo, nada há para se preocupar, eis que tudo passa. Em sendo assim, o livro defende a assertiva de que até as tormentas do caminho devem ser vividas na sua plenitude. Isso decorre da noção de que toda moeda possui duas faces, ou seja, onde uma estiver também a outra estará necessariamente. Por consequência, ninguém ou nenhum acontecimento seria unicamente bom ou mau.
Resenha:
O Morro do Acaso é um livro diferente de tudo que já tinha lido. É uma mistura de sentimentos. Há de tudo um pouco: romance, drama, reflexão e até autoajuda. Um livro rico, sem dúvidas. E muito diferenciado, o que é excelente; ainda mais nesse mar literário onde tudo é muito parecido.
Na obra, nós acompanhamos a trajetória de Thiago, um rapaz que vive em perfeita sintonia com a vida e a natureza. Ele é um rapaz inteligente, esforçado e que se mostra extremamente reflexivo. Porém, quando ele entra na faculdade e se mistura com as pessoas erradas, as coisas começam a mudar. Para pior, obviamente.
Um acidente acontece e isso faz com que Thiago mude completamente seu modo de agir, pensar e ver o mundo. O rapaz reflexivo se torna gelado, inflexível e que fará de tudo para alcançar seus objetivos. E quanto mais o protagonista conquista, mais ele se perde dentro de si. Porém, um dia a casa iria cair. E caiu.
“– Não sei direito, acho que estou em todo lugar e todo lugar está em mim. Estou me sentindo meio aéreo, mas a sensação é muito boa. É como se tivesse entrado em êxtase eterno” (p. 27).
Valter Simas nos faz refletir sobre a vida de uma forma muito profunda em sua obra. Somos levados a pensar sobre nossas ações, sobre como encaramos a vida e, principalmente, o quão realmente estamos conectados ao nosso verdadeiro “eu”. Afinal, com a correria do cotidiano, muitas vezes deixamos de viver como deveríamos para apenas existir.
A fim de nos levar a reflexão, outro ponto que é bem trabalhado na obra é: até onde vale “se atolar” para ter sucesso na vida profissional? Será que realmente é necessário abrir mão de princípios como lealdade e honestidade? Se você tivesse que demitir um colega para subir de cargo, você o faria?
Apesar de toda reflexão e da escrita leve e fluida do autor, alguns pontos na obra não me agradaram tanto. O que é questão de gosto pessoal, não falha da obra. Cabe a você julgar se isso te agradaria ou não.
“– Sei não pai... Se eu começar a beber cedo, a mãe vai encher o meu saco...– Hoje é festa, deixa que com sua mãe eu resolvo – rebateu, sem dar chance ao filho de continuar ou não” (p. 17).
O primeiro ponto que me deixou um tanto chocado foi ver Thiago e seus amigos, menores de idade, abusarem da bebida na obra. Aliás, eles são incentivados pelos pais a beberem. O pai do Thiago diz para ele tomar cerveja e aproveitar, que convencerá a mãe do garoto a não reclamar. Em outro momento, os amigos vão para um bar e bebem normalmente. Simples assim. E nesses momentos não é o “Thiago errado, desprendido de sua essência”. Aquele era o “Thiago virtuoso”.
Não importa o quão real isso seja, não deve ser tratado com naturalidade, sem crítica. Ainda mais em uma obra literária que tem um papel social a cumprir. Não é natural que pais incentivem seus filhos a se embriagarem. Meu lado professor insiste que vender bebidas para menores é errado. Muito mais do que errado, é crime.
Outro ponto que me incomodou um pouco foi a quantidade de saltos temporais durante a obra, o que é até compreensível, já que o livro é pequeno e cobre quase a vida toda do protagonista. Porém, achei um pouco estranho em um parágrafo estar falando do dia x e no seguinte já estarmos na semana seguinte.
“Thiago vinha absorvendo o podre e cinzento mundo do poder e do dinheiro, este vinha se tornando aquele mundo” (p. 57).
Contudo, apesar desses pequenos problemas, a leitura foi bem agradável, principalmente por causa dos pontos positivos e da escrita simples, direta e ágil do autor. Além disso, a agilidade na leitura também se deve, em parte, à diagramação confortável da obra, que conta com letras grandes e um espaçamento enorme.