Título:Quissama
Autor:Maicon Tenfen
ISBN: 9788578481377
Editora:Biruta
Ano:2014
Páginas:308
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Sinopse:
Rio de Janeiro, dezembro de 1868.
O moleque Vitorino Quissama foge da senzala para procurar a mãe desaparecida. Recorre ao viajante Daniel Woodruff, ex‑agente da Scotland Yard que pode ajudá‑lo em sua missão. Transitando entre os salões da corte e as precárias moradias dos cortiços, a dupla terá de enfrentar os perigos e as injustiças de uma sociedade sustentada pelo trabalho escravo.
Baseado nos manuscritos de Daniel Woodruff (1832-1910), O Império dos Capoeiras reconstitui a saga de uma cidade dividida pela guerra secreta dos Nagoas e Guaiamuns, duas das maiores e mais temidas maltas do século XIX. Numa época em que o escritor José de Alencar era Ministro da Justiça e o Império do Brasil destinava todos os seus recursos à Guerra do Paraguai, Woodruff mal podia imaginar que, por trás da busca pessoal de Vitorino, insinuava‑se uma conspiração que mudaria os rumos da nossa História.
Resenha:
Sabe quando você inicia a leitura de um livro com a expectativa nas alturas e ainda assim ele consegue te surpreender? Foi exatamente isso que aconteceu com Quissama, obra nacional escrita pelo Maicon Tenfen. Quer saber o motivo disso ter acontecido? Confira a resenha abaixo.
Daniel Woodruff, ex-marinheiro e ex-agente da Scotland Yard, está aproveitando os seus últimos dias no Rio de Janeiro. Enquanto está tomando uma bebida em um conhecido ponto da cidade, é surpreendido por Vitorino Quissama, um rapaz de olhar atento. O garoto queria que Daniel procurasse a sua mãe desaparecida. Como pagamento, ofereceu um colar valiosíssimo.
Como Vitorino era um capoeirista, tinha fugido do seu dono, e ainda portava uma joia que provavelmente tinha sido roubada, Woodruff quis afastar-se do caso. Contudo, o destino conspirou contra si. Querendo ou não, ele foi jogado de cabeça no centro da confusão. Porém, o que parecia apenas o caso de uma joia roubada e um rapaz que fugiu do senhor de escravos torna-se uma conspiração que pode abalar o Império.
“Era um moleque de quatorze ou quinze anos. Cruzou a porta da taverna e veio cambaleando em minha direção. Digo melhor: não veio exatamente cambaleando, como percebi a seguir, mas gingando, movendo-se num balanço de ameaça, quase dançando, como era costume entre os gatunos da corte” (p. 14).
O primeiro ponto que deve ser destacado na obra é a profunda fundamentação histórica desenvolvida pelo autor. È possível enxergar o Rio de Janeiro imperial com riqueza de detalhes e visualizar como houve uma profunda mudança na cidade maravilhosa, tanto física quanto social. Isso deixa a obra mais verossimilhante, o que é excelente.
Além de um bom embasamento, a obra também ganha em qualidade por causa da escrita do autor. Tenfen mostra que sua habilidade com a literatura vai além da sua formação acadêmica – o autor é mestre e doutor em teoria literária –, pois sua escrita é rica, envolvente e ágil, tornando a leitura fluida, algo não tão comum em livros do gênero.
Outro expoente na construção do enredo foi os personagens incríveis e cativantes inseridos. Tenfen mistura personalidades reais, como a princesa Isabel e José de Alencar, com personagens fictícios. Essa mescla deixou a obra mais real, mesmo sem perder a pegada de ficção; o que, sem dúvidas, enriquece demais a narrativa.
“Assim Ra o povo do Rio, uns muito valentes, outros muito covardes e todos muito traiçoeiros, mas isso eu já sabia desde que desembarcara na cidade” (p. 46).
Dentre os personagens, os que mais me chamaram a atenção foram Vitorino e José de Alencar. Aquele me ganhou pela persistência, pela bondade intrínseca e por sua luta pela liberdade. Ele é o tipo de personagem que te conquista sem qualquer dificuldade. José de Alencar, por sua vez, me chamou a atenção por possuir uma personalidade diferente do que eu imaginava. Sem falar que é incrível ver um autor que você gosta como personagem de outro livro.
Além do enredo apresentado, Quissamatambém surpreende o leitor com a sua qualidade gráfica; A Biruta entrega ao leitor um trabalho rico e belo, o que também engrandece a obra. O livro contém ilustrações bem feitas, alguns detalhes da diagramação que embelezam a obra, um espaçamento confortável e uma revisão muito boa. Um trabalho que merece ser aplaudido.
Desta forma, observando os aspectos apresentados, torna-se impossível não indicar a obra para todos. Quissama está, sem qualquer dificuldade, entre os melhores nacionais que li esse ano.
“– (...) Por incrível que pareça, mister Woodruff, o principal abolicionista, ou melhor, o principal agitador do Brasil é um indivíduo chamado Pedro de Alcântara de Orleans e Bragança.– Está se referindo ao imperador?– A quem mais? São atitudes dele que causam tamanha instabilidade” (p. 173).
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