Autores: Vagner de Alencar e Bruna Belazi
Editora: Primavera Editorial
ISBN: 9788561977634
Ano: 2013
Páginas: 171
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Sinopse:
Enquanto na grande mídia os protagonistas da periferia são o tráfico e a violência, em "Cidade do Paraíso - Há Vida na Maior Favela de São Paulo" são os moradores anônimos a alma da vida cotidiana, aqueles que tecem suas histórias entre os becos e as vidas. Neste livro, são as pequenas ruelas o cenário comum a donas de casa e microempresários, ao arquiteto de garrafa PET, e ao homem que transforma sucata em arte, à locutora de rádio comunitária e às artistas divididas entre a arte e o telemarketing, além de tantos outros personagens que encontraram em Paraisópolis não apenas um endereço em comum mas, sobretudo, o paraíso de cada uma delas.
Resenha:
Quem é leitor frequente do blog sabe que eu adoro livros que “fazem pensar”. Hoje, vou apresentar um livro que nos fez repensar o Brasil, as relações de poder, as nossas ideologias e, principalmente, nossos preconceitos. Venha conhecer Paraisópolis, ou Cidade do Paraíso, como você preferir.
Paraisópolis, localizada na zona nobre de São Paulo, é uma das maiores favelas do Brasil. O senso comum associa essa favela e todas as outras à criminalidade. Porém, os autores demonstram que a Cidade do Paraíso vai muito além disso; lá existe uma população feliz, sorridente e muito criativa.
Somos apresentados, página após página, às particularidades dessa comunidade paulista: da abundância de salões de cabeleireiro com nomes americanizados ao córrego que corta a comunidade ao meio, o Antonico, e que traz insegurança e risco de alagamentos constantes. Conhecemos a poetiza de Paraisópolis e o homem que faz projetos apenas com garrafas pets.
De todos os personagens marcantes que encontramos no livro, e foram muitos, eu garanto, os que mais me marcaram foram Jair, o homem do Gás, e Vanessa e Bruno, os irmãos gênios de Paraisópolis. O primeiro me fez refletir sobre os migrantes de todos os estados do Brasil que vêm para as grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, e constituem a mão de obra pesada delas. É com o suor destes homens e mulheres que foram sedimentadas as grandes cidades, porém retribuímos isso, infelizmente, com desprezo e preconceito.“Paraisópolis era nossa nova casa. Os becos e as vielas, nosso endereço. O esgoto a céu aberto, o Antonico, nosso mal-amado vizinho” (p. 23).
Vanessa e Bruno, por sua vez, me fizeram sorrir de entusiasmo. Eles me relembraram Paulo Freire, em seu livro Pedagogia da Autonomia, quando afirma que somos condicionados, mas não determinados. O casal de irmãos venceu todas as diversidades e, com a inteligência, estão conseguindo mudar a sua realidade. Mostraram que não precisa ser rico e morar bem para se destacar, mas apenas ter força de vontade para vencer.
O livro, sem dúvidas, gera pensamentos inúmeros e nos faz repensar muitos pontos nos quais acreditamos piamente. Porém, não apenas no conteúdo o livro se mostra incrível; a editora Primavera também caprichou na diagramação. O livro é repleto de fotos que nos fazem visualizar a situação dos moradores e conhecer melhor Paraisópolis. A letra não é tão grande, mas o espaçamento é bom, tornando a leitura agradável. A revisão do livro também é muito boa, o que torna a leitura ainda mais prazerosa.
Por todos esses motivos e muitos outros, que vocês só vão descobrir ao desbravar a obra, eu indico esse livro. Não se prendam somente a livros ficcionais; conheça a realidade que os cercam. Só com o conhecimento poderemos mudar mundo. Comece já a fazer a sua parte: leia Cidade do Paraíso.“Quando a chuva avança, Ana Iris vê a força da água arrastar seus poucos móveis e eletrodomésticos comprados a partir da renda como manicure e pedicure. Porém, vê, principalmente, seus sonhos mais ternos serem carregados pela enchente” (p. 76).