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Resenha: O Vilarejo

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Título:O Vilarejo
Autor: Raphael Montes
Editora:Suma de Letras
ISBN:9788581053042
Ano:2015
Páginas:96
Compre:Aqui

Sinopse:

Em 1589, o padre e demonologista Peter Binsfeld fez a ligação de cada um dos pecados capitais a um demônio, supostamente responsável por invocar o mal nas pessoas. É a partir daí que Raphael Montes cria sete histórias situadas em um vilarejo isolado, apresentando a lenta degradação dos moradores do lugar, e pouco a pouco o próprio vilarejo vai sendo dizimado, maculado pela neve e pela fome.
As histórias podem ser lidas em qualquer ordem, sem prejuízo de sua compreensão, mas se relacionam de maneira complexa, de modo que ao término da leitura as narrativas convergem para uma única e surpreendente conclusão.

Resenha:

Desde que Raphael Montes começou a fazer sucesso, eu quis conferir uma obra de sua autoria. O motivo é simples: ele escreve alguns dos gêneros que mais gosto: suspense e terror. Após conferir a obra O Vilarejo, afirmo: o autor realmente escreve bem, apesar de possuir uma escrita bem diferente do que eu imaginava.

O Vilarejo começa mostrando a relação que o padre Peter Binsfeld fez entre alguns demônios e supostos pecados. Teoricamente, esses demônios são responsáveis por darem uma força para que as pessoas pequem. Partindo dessa premissa, Montes constrói contos, cada um deles relacionado com um demônio, mostrando o pior lado da humanidade.


Por razões de espaço e de resguardar a surpresa para os leitores, não falarei de todos os contos especificamente. Farei uma breve sinopse dos dois que mais me agradaram para aguçar a curiosidade e partirei para a análise da obra como todo. Assim sendo, apresento a você: Leviathan – as irmãs Vália, Velma e Vonda e Lúcifer – o negro caolho.
“O velho estava certo. O vilarejo vem sendo dizimado dia após dia. O luto sentou-se à mesa. Ninguém chora os mortos. Não podem desperdiçar energia lamentando a partida dos que não suportaram o frio e a fome” (p. 13).
Em Leviathan, Raphael narra a vida de três irmãs. Vália é a mais velha e namora um dos rapazes mais desejados do vilarejo. Ela é feliz e realizada. Velma e Vonda são gêmeas e um pouco mais novas que Vália. Aparentemente, todas possuem uma boa relação. Porém, uma das mais novas começa a desejar o namorado da mais velha. Isso, definitivamente, seria um problema. A menos que...

Partindo dessa premissa, o autor cria um conto bom, inteligente e com personagens que ganham o leitor. O pecado cativado por Leviathan mostra-se presente com força total, mostrando até onde os humanos podem ir para saciar a sua vontade. Pela barbárie, me cativou. Um conto que merece ser lido.


Em Lúcifer, tudo começa com a chegada de um homem negro na cidade. A população branca, eufórica, quer matar o coitado. Porém, uma senhora interrompe o linchamento, diz que ele é um humano como qualquer outro e que merece respeito. Mostrando sua determinação, o leva para casa. Porém...
“Matar uma pessoa não é tão difícil, afinal. Basta puxar um gatilho, colocar uma erva venenosa no chá, aperta com força o nó de uma corda envolta do pescoço desprevenido...” (p. 25).
Nesse conto, Montes mostra outro lado bem interessante da humanidade: como nós somos o demônio que mais tememos. Parece duro, mas é a verdade. Com muita inteligência, ele constrói uma trama chocante e violenta, mas um tanto real. Sem dúvidas, foi o meu conto favorito da obra.

De uma maneira geral, é possível afirmar que Raphael Montes possui uma escrita ágil, fluida e bem inteligente. As páginas voam e O Vilarejo se torna uma obra para ser lida em uma sentada só.  Contudo, apesar dessa agilidade na escrita e de criar uma obra curta, os personagens são bem delineados, o que torna a obra mais completa.


Por outro lado, o cenário de O Vilarejonão foi totalmente explorado. Era possível fazer contos maiores, mais abrangentes ou, até mesmo, um romance. Aliás, caso o autor queira, uma continuação também funcionaria. Afinal, fica a vontade de conhecer mais sobre esse lugar tão assolado pelo clima e por seus próprios moradores. No final, espera-se mais sobre o vilarejo, sobre a população e esse mais não chega. Então, fica a esperança de novos contos ou um romance ambientado na região.
“– Tinha a pele escura como se o fogo do inferno o tivesse queimado por séculos e séculos – diria aos colegas igualmente embriagados. – Os dentes eram tortos e estavam manchados de sangue. Sangue de gente” (p. 33).
Outro ponto que gostaria de salientar é a comparação, contida na capa, de Montes com o King. Considero essa comparação injusta com o autor e até desleal. King é um autor experimentado, genial e um mestre no gênero; Montes ainda está dando seus primeiros passos na literatura. Além disso, a escrita dos dois é muito diferente. King é muito mais profundo, porém, sua escrita é lenta; Raphael consegue dar uma agilidade enorme à obra, mas, ao menos nesse livro, dá apenas a profundidade necessária para lermos um ótimo texto. Rapahel Montes é muito bom no que faz, mas não é o Stephen King e ainda não é um mestre. Aliás, essa “afirmação comercial” na capa pode até decepcionar alguns leitores. Afinal, se você for ler O Vilarejo procurando um novo King, irá se frustrar.

Quanto à parte física, eu só tenho que elogiar a Suma de Letras. A capa está muito bonita; a diagramação é um grande espetáculo, com algumas folhas negras, ilustrações incríveis e um ar sombrio sem igual. Além disso, a revisão está muito boa. Ou seja, a Suma manteve o seu alto padrão de qualidade que já lhe é tradicional.


Diante desses aspectos, certamente indico O Vilarejo, principalmente para quem está buscando um livro de terror mais leve. Se você busca um enredo que te envolva, te deixe apreensivo, mas que não te mate de medo, essa obra é para você. Além da boa escrita do autor, admirar as belas ilustrações também é um ótimo motivo para adquirir a obra.

Outras fotos:








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