Sinopse:
Numa terra devastada por uma hecatombe nuclear, uma jovem e misteriosa mulher com o incomum nome de Onyesonwu – que pode ser traduzido como Quem Teme a Morte – descobre que tem superpoderes e foi escolhida para salvar a humanidade. Este seria um romance distópico como qualquer outro se não transcorresse na África e sua autora não fosse a surpreendente Nnedi Okorafor, elogiada pelo prêmio Nobel nigeriano Woyle Soyinka. Fantasias, batalhas, tradições e alta tecnologia, sonhos, visões, discriminação racial e sexual, tudo se mistura numa narrativa tensa e poética que confere uma nova linguagem para os romances do gênero.
Resenha:
Iniciei a leitura com a expectativa de uma deliciosa história apocalíptica. A chamada distopia é um gênero atrativo para muitos. Você é daqueles leitores que se desesperam por histórias fantásticas? Além de tudo isso, a obra tem um diferencial: ela se passa na África.
Logo no início, a leitura é acelerada; a sede de chegar ao final para saber o que acontece é imensa. Contudo, no decorrer da trama, em alguns momentos, a escritora parece que se perde um pouco na narrativa, isso faz com que a leitura fique arrastada e cansativa.
A obra descreve a vida de Onyensowu Ubaid, a grande heroína da história. Ela é gerada de um estupro. Sua mãe foi estuprada em uma guerra tribal entre os Nuru e Okeke. Esta é a origem das pessoas boas, já os Nuru são vistos como bárbaros. Eles têm o intuito de destruir a família Okeke, então, estupravam as mulheres e matavam os homens.
“Os homens Nuru e suas mulheres haviam feito tudo aquilo por motivos além da simples humilhação e tortura. Eles queriam gerar crianças Ewu. Tais crianças não são fruto do amor proibido entre um Nuru e uma Okeke, nem são Noahs, Okeke que nascem sem cor. Os Ewu são filhos da violência” (p.25).
Mesmo concebida de um estupro, a mãe não renegou sua filha. Tratou-a da melhor maneira e alimentou-a como pôde. Onyensowu, chamada de Onye, é amaldiçoada e discriminada pelos povos, por causa de sua origem.
Onye é uma Ewu, que significa nascida da dor. Toda criança gerada de um estupro era chamada dessa forma. As crianças concebidas através da violência sexual eram facilmente identificadas. A cor de sua pele, as sardas, os traços do nariz, bem como o tipo de cabelo. É uma junção das duas aldeias que se torna inconfundível. É por isso que Onye é tão discriminada por onde passa. Traduzindo, seu nome significa Quem teme a morte.
O que ninguém imagina é que Onye é a escolhida para salvar o povo através de seus poderes sobrenaturais. A profecia declara que é dela o poder de reescrever o Grande Livro e salvar o mundo de uma nova hecatombe.
“As pessoas acreditam que os nascidos Ewu em determinado momento se tornam violentos. Acreditam que um ato de violência só pode gerar mais violência. Eu sei que isso não é verdade, e você também deveria saber que não” (p.36).
E se você tivesse os poderes de Onye? E se você pudesse voar, levitar, manipular o tempo, a vida e a morte? Onye pode salvar as pessoas, assim como curá-las. Porém, a cura de alguém reflete em doença para si. Ao tocar na pessoa doente, a pele das mãos de Onye começa descamar e a dor predomina em seu corpo.
Enquanto Onye desvenda seus dons, ela conhece Mwita, que passa a compreender os fenômenos de seu corpo. O envolvimento dos dois vai além da amizade e do amor, eles são companheiros.
Além dos incríveis poderes, Onye tem visões terríveis e sofre por isso. O desespero surge quando ela descobre que alguém está prestes a matá-la e, agora, ela terá de lutar para salvar a si mesma de um assassino que a inferniza em seus sonhos. Será que ela vai conseguir? Será que uma adolescente conseguirá mudar o destino de um país assolado pela dor e pela desesperança de mudança? Leia e descobrirá!
“Rejeição. Sentimentos desse tipo se alastram silenciosamente dentro de uma pessoa. Então, um dia, a pessoa se descobre pronta a destruir tudo” (p.113).
Embarcar nessa obra foi como ir com sede demais ao ponte e notar que estava no deserto. Embora o local para os cenários seja perfeito, os personagens bem trabalhados e uma escrita marcante, a obra não atingiu o seu clímax. Pelo contrário, quando pensava que teria um fim eletrizante, ele surge de forma diferenciada.
Ao contrário de muitas resenhas que li, a sinopse descreve o que se passa no livro. Alguns desconhecem o termo hecatombe e, por isso, declaram que a obra não cumpre com o que a sinopse promete. A hecatombe, presente no livro, trata do sacrifício de várias vidas. Muitas mulheres sofreram, foram abusadas sexualmente, apenas com o objetivo de procriar os Nuru. Muitas delas morriam, logo após a violência sofrida. Em contrapartida, o termo nuclear acompanhado do substantivo, na sinopse, em si, nos dá a ideia de uma metáfora.
A capa é bastante chamativa e a diagramação é impecável. Para quem é fã de distopias, vale a pena a leitura.
“Que melhor maneira de afastar o medo da morte de uma pessoa do que mostrar sua própria morte a ela?” (p.168).
Título: Quem teme a morte
Autora: Nnedi Okorafor
ISBN: 9788581301594
Editora: Geração Editorial
Ano: 2014