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Resenha: A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua

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Título: A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua
Autor: Jorge Amado
ISBN: 9788535911831
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2008
Páginas: 118
Compre: Aqui

Sinopse:

O respeitável Joaquim Soares da Cunha, funcionário exemplar da Mesa de Rendas Estadual da Bahia, rompe com a família e as convenções sociais para viver aventuras no porto e na zona do meretrício de Salvador. Agora se chama Quincas Berro D'água.

Resenha:

Muitas vezes, a literatura nos reserva maravilhosas surpresas. Ao começar a ler A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua, esperava um ótimo livro, visto que Jorge Amado era genial, mas não uma obra tão envolvente, engraçada e também crítica. Menos ainda imaginava que a obra entraria para a minha lista de favoritas. Quer saber o porquê de tanta surpresa? Confira comigo.

Quincas morreu. Não, isso não é nenhum spoiler; está no título do livro e na primeira frase da obra. Ele partiu dessa para uma melhor de um jeito para lá de inesperado: dormindo, provavelmente meio sóbrio, sem fazer nada de errado. Quincas morreu, mas ainda vive no coração de seus amigos e de Quitéria do Olho Arregalado. Ah, no ódio dos parentes também, pois até na morte Quincas arrumava problemas.


Porém, antes de ser Quincas Berro Dágua, o arruaceiro respondia pelo nome de Joaquim Soares da Cunha. Homem respeitado, marido zeloso e pai presente. Contudo, a vida o chamou e ele cansou de aparências, de práticas sociais e boas maneiras. Joaquim virou Quincas; fez fama nas ruas, ganhou a sua liberdade e arrumou amigos para lá de peculiares. Contudo, quem ganha liberdade na vida também leva a liberdade para a morte. Obviamente, a morte dele também tinha que ser liberta de rituais chatos.
“Assim é o mundo, povoado de céticos e negativistas, amarrados, como bois na canga, à ordem e à lei, aos procedimentos habituais, ao papel selado” (p. 14).
Jorge Amado mostrou, nesse trabalho, que é tão genial quanto Machado e que pode começar um livro com a morte de seu protagonista e ainda sim criar uma obra incrível. Aliás, genialidade é pouco, visto que a forma que a trama se desenrola é completamente inesperada, principalmente por causa de seus personagens peculiares e uma narração tipicamente oral.

Amado prova-se, mais uma vez, ser mais do que um escritor, mas um contador de histórias. Como se conversasse com o leitor, ele narra como foi a morte de Quincas e como tudo se desenrolou a partir desse momento. A escrita é fácil, direta, mas ao mesmo tempo tem aquela subjetividade e poesia que só encontramos nos relatos orais.


Seus personagens, assim como a sua escrita, também são bem diferentes do que costumamos encontrar. Primeiro porque o autor escreve sobre a população mais carente da Bahia, o que raramente é o foco dos escritores contemporâneos. Além disso, ele os trabalha com profundidade e simplicidade ao mesmo tempo. Apesar de pouco conhecê-los, temos a impressão de lê-los desde o coração até as intenções. O melhor: isso acontece com todos os personagens.
“Não sei se esse mistério da morte (ou das sucessivas mortes) de Quincas Berro Dágua pode ser completamente decifrado. Mas eu o tentarei, como ele próprio aconselhava, pois o importante é tentar, mesmo o impossível” (p. 15).
Não apenas, o autor ainda consegue fazer uma crítica social bem interessante, ao colocar, lado a lado, a família de Joaquim e os amigos de farra de Quincas. Vemos, claramente, na fala, nos gestos e até nos olhares uma espécie de luta de classes. Além disso, há toda uma crítica a quem se prende a critérios sociais, a quem rejeita a felicidade para se prender ao padrão aceitável da sociedade. O texto é praticamente uma ode à liberdade e à felicidade.

Além dos mencionados aspectos, o livro também ganha o leitor pela parte física. A obra conta com uma capa bonita e com uma diagramação excelente. As letras são grandes, o espaçamento é confortável e a revisão está perfeita. Ademais, a obra conta com um material extra de ótima qualidade, incluindo um artigo sobre o livro, cronologia da vida e obra do autor, capas da publicação pelo mundo e até as páginas do texto original. A Companhia de Letras fez um trabalho que merece aplausos.


Obviamente, depois de tantos elogios, tenho que terminar a resenha indicando a obra. Leia, leia, leia, leia. Sabe aquela mentira que diz que clássico sempre possui palavras difíceis e escrita arrastada? Jorge Amado te mostrará exatamente o contrário. Essa é uma daquelas obras para se guardar na estante, no coração e na alma.
“A morte de Quincas aumentava, onde ia chegando, a consumação da cachaça” (p. 57).



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