Título: Guerra do Velho
Autor: John Scalzi
Editora: Editora Aleph
ISBN: 9788576572992
Ano: 2016
Páginas: 368
Ano: 2016
Páginas: 368
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Sinopse:
John Perry fez duas coisas no seu aniversário de 75 anos: visitou o túmulo da esposa e alistou-se no exército. As Forças Coloniais de Defesa, misteriosamente, estão recrutando idosos para conquistar novos territórios interestelares. Detentores de uma tecnologia inovadora, as FCD são capazes de criar supersoldados com habilidades jamais vistas, e um exército disposto a arriscar tudo.
Resenha:
Em meio a um mar de obviedade, Guerra do Velhoé a prova de que a nova literatura de ficção científica tem futuro. Não é uma trama original, obviamente. Aliás, é difícil fazer algo totalmente original em um gênero com tantos ícones. Contudo, John Scalzi consegue unir os melhores elementos do gênero para fazer uma grande obra. O que tinha tudo para ser um monstrengo no estilo Frankenstein, tornou-se o início de uma grande saga.
Tudo começa quando John Perry completa setenta e cinco anos. Ao alcançar essa idade, ele visita o túmulo de sua esposa e se alista no exército. Parece estranho, mas é exatamente isso. A humanidade já evoluiu muito em tecnologia e o que se busca no exército é a inteligência e experiência, não o vigor da juventude. Como esses idosos irão se tornar combatentes? Isso é apenas um detalhe.
Alistando-se, John, juntamente com outros voluntários, é encaminhado ao Pé de Feijão – uma estrutura imponente que os levará para o espaço. Após essa aventura e muita especulação de como eles se tornarão combatentes, chega o grande dia da mudança. Algo será feito em seus corpos, mas eles não sabem o quê. Cada um dos voluntários tem seus palpites, uns mais científicos, outros meramente baseados no achismo. Porém, ninguém estava preparado para a surpresa que estava por vir.
“O problema de envelhecer não é acontecer uma desgraça após a outra – é toda a desgraça acontecer de uma vez e o tempo todo” (p. 20).
Partindo da premissa acima descrita, Scalzi começa a tecer as redes que formarão seu amplo universo. Como já dito, há muitos elementos nada originais. O “Pé de Feijão” pode ser encontrado, por exemplo, no livro As Fontes do Paraíso, de Clarke, também publicado pela Aleph. Batalha entre humanos e alienígenas? Isso é mais batido do que triângulo amoroso em romance de banca. O grande mérito do autor é usar do que já há de consagrado e criar muitos elementos novos, que deixará uma série de estruturas canonizadas com uma nova aparência.
Outro ponto que merece destaque são as múltiplas questões tratadas na obra. Vemos questões políticas, sociais e até filosóficas sendo abordadas de maneira inteligente no livro, tudo isso sem deixá-lo lento ou pesado. O autor sabe mesclar bem os momentos de ação e os questionamentos dos personagens, deixando a obra agradável em um todo.
A linguagem utilizada também é um ponto para lá de positivo. Mesmo falando de muitas tecnologias novas, o autor simplifica ao máximo o nome dos termos e equipamentos, deixando a leitura mais fluída. Ademais, o fato de a narração ser realizada em primeira pessoa deixa a escrita da obra mais próxima da linguagem falada, acelerando ainda mais o enredo.
“Eu também não ligava de envelhecer quando era jovem (...) Foi ser velho que passou a incomodar” (p. 26).
Por fim, o autor merece os parabéns pelos excelentes personagens criados. Claro que o grande destaque é o protagonista, mas ainda assim há uma série de outros personagens que merecem destaque. Um deles é o Sargento-mor Ruiz que, com seu jeito desbocado e politicamente incorreto, tenta tornar um bando de idosos em soldados capazes de vencer uma guerra. Aliás, a mudança de postura que ele causa nos soldados é simplesmente incrível.
Quanto à parte física, eu não tenho o que reclamar. A capa está muito bonita e deixa claro desde a primeira olhada que se trata de um livro de ficção científica. A diagramação, por sua vez, também está ótima, bela e confortável. Além disso, a obra conta com uma boa tradução e revisão.
Em suma, Guerra do Velho, pela junção dos mais diversos elementos, tinha tudo para ser uma obra sem graça e previsível. Ledo engano. Scalzi escreveu uma das melhores obras dos últimos anos no mundo da ficção científica, demonstrando uma escrita madura, ideias plausíveis e um planejamento formidável. Fico ansioso na espera da tradução do segundo livro.
“O sargento-mor Antonio Ruiz podia ter saído da tela de uma televisão. Era exatamente o que se esperava de um oficial de treinamento: grande, raivoso, abusivo em vários níveis desde o início. Sem dúvida, nos próximos segundos, ele avançaria sobre um dos recrutas risonhos, gritaria obscenidades e ordenaria cem flexões. É o que você aprende quando assiste a 75 anos de filmes de guerra” (p. 138).