Título: As Reputações
Autor: Juan Gabriel Vásquez
Editora: Bertrand Brasil
ISBN: 9788528618631
Ano: 2016
Páginas: 140
Ano: 2016
Páginas: 140
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Sinopse:
Javier Mallarino é uma lenda viva, o caricaturista político mais influente do país. Os políticos o temem e o governo lhe presta homenagens. Aos sessenta e cinco anos, depois de quatro décadas de uma carreira brilhante, ele pode dizer que tem o país aos seus pés. Mas tudo isso mudará quando receber a visita inesperada de uma mulher. Após retornar com ela à lembrança de uma noite já remota, Mallarino se verá obrigado a reavaliar toda a sua vida e questionar sua posição neste mundo. No exigente gênero do romance curto, que produziu tantas obras-primas na tradição latino-americana, Vásquez nos presenteia com sua obra mais íntima: uma intensa reflexão sobre a debilidade dos julgamentos públicos e privados, sobre os encontros irreversíveis que alteram para sempre aquilo que acreditamos definitivo em nós mesmos.
Resenha:
Desbravar As Reputações foi um tiro no escuro para mim. Desconhecia o autor por completo, mas resolvi ler a obra por causa do tema abordado, da capa, que me pareceu bem expressiva e representativa, e da opinião de Mario Vargas Llosa. Após terminar a leitura da obra, a certeza é: preciso ler outros títulos de Vásquez.
A obra começa com uma possível homenagem a Mallarino. Ele é um cartunista famoso, o maior da Colômbia. Durante muitos anos, ele fez presença na vida política nacional, seja destruindo reputações de políticos ou denunciando a situação precária do povo. Depois de tantos anos modificando a opinião pública, o governo quer homenageá-lo.
Por fim, após alguma reflexão, o cartunista cede e resolve receber a homenagem oferecida. Contudo, este ato irá gerar uma série de conflitos internos, na esfera sentimental e familiar, entre seus amigos e também com sua consciência. No evento, alguns acontecimentos tornam-se o estopim do desenterro de memórias. A partir destas, o livro é construído.
“Suas caricaturas políticas tinham-no transformado no que era Rendón no início da década de 1930: uma autoridade moral para metade do país, o inimigo público numero um para a outra metade, e para todos um homem capaz de causar a revogação de uma lei, inverter a sentença de um magistrado, derrubar um prefeito ou ameaçar gravemente a estabilidade de um ministério, e isso com as únicas armas do papel e do nanquim” (p. 14).
Através de Mallarino, Vásquez toca em uma série de assuntos densos e complexos. O primeiro ponto e o mais evidente é o papel da imprensa dentro de uma sociedade. Percebe-se, sem qualquer dificuldade, como uma notícia ou uma caricatura pode destruir a vida de uma pessoa ou de um grupo. Quando temos a vinculação de algo em uma fonte de notícias, há, por trás, muito mais do que apenas um fato sendo exposto: há um jogo político-ideológico que, muitas vezes, não nos damos conta. A imprensa passa a ter um poder tão assustador que gera a seguinte reflexão: até onde ela pode ou deve ir?
Além disso, Juan Gabriel trabalha muito bem a questão da memória coletiva. Sabe aquela história de que o povo não tem memória? Pois bem, é verdade. No Brasil temos inúmeros exemplos dessa desmemoriação coletiva, principalmente no ramo político. Isso é abordado com perfeição na obra. O que acontece hoje, o povo esquece na semana seguinte. Há sempre um novo fato a ser pensado, um novo escândalo a ser revelado. Contudo, esse processo de esquecimento histórico não deve e não pode ser natural.
Contudo, Mallarino também sofre com essa falta de memória coletiva, mesmo que em menor nível. Quando se dá conta disso, a culpa permeia a sua mente. Na verdade, no protagonista há uma falha memória coletiva e individual. Isso, juntamente com sua vida amorosa e familiar altamente dilacerada, faz com que acompanhemos de maneira muito interessante o lado psicológico do protagonista.
“(...) Estamos vivendo tempos desorientados. Nossos líderes não estão liderando nada, e menos ainda nos contando o que está acontecendo. Aí entro eu. Conto às pessoas o que acontece. O importante em nossa sociedade não é o que acontece, mas quem conta o que acontece. Vamos deixar que somente os políticos nos contem? Seria um suicídio, um suicídio nacional” (p. 48).
Outro ponto bastante interessante da obra é a forma de seu início e do fim. O livro começa com um fato aparentemente aleatório, uma homenagem que um cartunista recebe do governo. Da mesma forma, termina de maneira quase abrupta, quase que inesperada. Há, claramente, um fluxo temporal do antes e do depois. As Reputaçõesé um recorte. O objetivo é nos fazer pensar, não acompanhar um romance fechado.
Além do excelente enredo e das mais diversas reflexões geradas, o livro conta com uma excelente parte física. A capa é expressiva e profunda, já apresentando indícios de alguns dos pontos que serão abordados na obra. A diagramação, por sua vez, é bem simples, mas eficaz, gerando uma leitura confortável. A tradução e a revisão estão perfeitas.
Desta maneira, resta-me indicar a obra. Se você procura um livro profundo, que gere reflexão e aborde assuntos complexos que estão cotidianamente presentes na nossa sociedade, essa obra é mais do que indicada para você.
“O esquecimento era a única coisa democrática na Colômbia: abrangia todos, os bons e os maus, os assassinos e os heróis, como a neve no conto do Joyce, caindo sobre todos por igual” (p. 112).