Título: Os Primeiros Contos de Truman Capote
Autor: Truman Capote
Editora:José Olympio
ISBN: 9788503012713
Ano: 2016
Páginas: 160
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Sinopse:
Reunião de contos inéditos, descobertos em 2013, na Biblioteca Pública de Nova York. Textos curtos e fortes, que já demonstram o talento para narrar histórias e a capacidade de empatia do autor, que se tornaria um dos mais importantes escritores do século XX com os emblemáticos Bonequinha de luxo e A sangue frio. Se os contos encontrados neste livro pudessem ser lidos como cinema, nos remeteriam aos filmes de Lucrecia Martel: as cenas são cotidianas e quase banais, mas ao entrar nas histórias, a sensação é de uma constante tensão. A atenção ao detalhe pareceria sem importância se não fosse um dos motores para sentirmos uma catástrofe iminente, que pode ser desencadeada a qualquer momento ou até não acontecer. De todo modo, ficamos muito próximos dos personagens e nos identificamos com eles, como se o autor tocasse na vida sem tentar explicá-la.
Resenha:
Capote é um ícone na literatura. Bonequinha de Luxo, uma de suas obras, marcou uma geração inteira. Contudo, ainda assim, nunca tinha lido nada de sua autoria. Quando vi, então, o lançamento da José Olympio, percebi que era a minha oportunidade. Afinal, nada melhor do que acompanhar o autor desde a sua gênese literária, não é mesmo? Confiante nisto, desbravei a obra; o resultado não poderia ser melhor.
Como resenhar contos é algo complexo, até porque o livro é composto por diversos textos, não farei um resumo de cada um deles por aqui. Isso tornaria a resenha cansativa e não chegaríamos ao real objetivo: analisar as características da escrita de Truman. Então, falarei dos aspectos dos textos de uma maneira mais geral.
O primeiro aspecto que se destaca na obra de Capote, ao menos na minha análise, é a banalidade. O que gera um grande conto? Se a sua resposta for algo como “um acontecimento fora do comum”, o presente livro está aqui para provar-te o contrário. Truman parte, quase sempre, do banal. De uma conversa, de uma senhora pobre que valorizava suas plantas, do sonho de agradar uma mãe... Coisas simples, cotidianas, mas que podem ter uma beleza grandiosa. O grande mérito do autor é saber focar no que é realmente importante, mesmo quando os momentos são pequenos. Dentro de uma perspectiva literária, em tudo há poesia; basta saber olhar corretamente. Capote tinha esse olhar.
“Por um momento ficou tão parada que ouvia o bater do próprio coração, e o relógio parecia uma marreta malhando um tronco oco. Em sabia que não estava imaginando coisas; sabia que aquele medo todo tinha um motivo; sabia instintivamente, de um instinto tão claro e vital que tomava todo o seu corpo” (p. 64).
Outro detalhe da escrita do autor que merece destaque é a empatia. Com grande habilidade, ele constrói o texto de uma forma que o leitor se vê na posição da personagem. A delicadeza da descrição, a minúcia dos sentimentos expressos envolve quem lê de uma maneira quase inexplicável. Pode-se perceber isso, claramente, no conto “Isto é para Jamie”, onde percebemos em cada detalhe da composição das cenas os sentimentos expostos.
O terceiro e último detalhe que merece ser destacado é a profundidade das personagens de Capote. Mesmo que elas sejam desenvolvidas em poucas páginas, é possível sentir toda a carga emocional por trás. Em apenas um parágrafo, Truman consegue desnudar a alma daqueles que participam do conto. Em tão pequena extensão, apenas os bons escritores conseguem tal efeito. Esse desenvolvimento rápido é essencial para o completo interesse do leitor. Afinal, muitos renegam o gênero conto pela falta de espaço para que o lado psicológico seja trabalhado.
Além dos bons contos, a José Olympio também nos brinda com uma excelente edição. A capa é bela e traz a imagem do próprio autor em um momento cotidiano, quase banal. O que, aliás, tem total relação com a obra. A diagramação, por sua vez, é simples, mas muito confortável, cumprindo seu objetivo. A tradução e revisão estão excelentes, o que já é padrão da editora.
“Sim, eu sabia que ela ia voltar. De modo que quando me disse que estava indo embora, não me surpreendi. Abri e fechei a boca e senti as lágrimas nos olhos e aquele vazio no estômago” (p. 113).
Em suma, Os Primeiros Contos de Truman Capoteé um livro belo, profundo e rico em sentimentos. Se levarmos em conta, então, a idade com a qual o autor construiu tais narrativas, fica ainda mais evidente o talento. Sem dúvidas, uma obra recomendada.