Título: Snow Crash
Autor: Neal Stephenson
Editora:Aleph
ISBN:9788576572046
Ano:2015
Páginas: 495
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Sinopse:
No mundo real, Hiro Protagonist é entregador de pizzas na CosaNostra, pizzaria controlada pela organização mafiosa do Tio Enzo. Mas, no Metaverso, ele é um príncipe samurai. Um novo vírus vem derrubando hackers por todo o mundo, e Hiro parte em uma jornada perigosa para encontrar e destruir o sombrio vilão virtual que ameaça não só a existência daquele universo virtual, mas da própria Realidade.
Resenha:
Resenha escrita por Thaís Snape
Snow Crash foi uma leitura completamente diferente das que costumo fazer. Não fui com expectativas por não conhecer a cultura Cyberpunk e com certo medo de não gostar do livro, mas, felizmente, o resultado não poderia ter sido o melhor: terminei a história e adorei. Quer saber como foi essa experiência? Confira abaixo.
Hiro Protagonist é um personagem totalmente diferente dos que já li em outros livros, ele é um hacker freelancer e um samurai – achei muito louca e legal a ideia; para reforçar isso. Hiro ainda é um entregador de pizzas que lida com as situações mais anormais possíveis, ele precisa entregar cada pizza em um lugar determinado, senão diz adeus a seu emprego. O que achei engraçado e até plausível é que as pessoas, mesmo nesse mundo desenvolvido e supertecnológico, são capazes de tudo para tentar atrapalhar a entrega e ganhar na justiça sua pizza de graça. Então, imagine a pressão que ele sofre. Fora essa imensa responsabilidade, que no mundo em que vivemos não acharíamos tão séria, porém, meus amigos, na Realidade, atrase um minuto e sofra as consequências com o Tio Enzo.
Em uma de suas entregas, Hiro acaba conhecendo Y.T, uma adolescente Kourier – uma skatista que também faz entrega com um skate mais modernizado e super cool– que o ajuda inesperadamente, já que como todo mundo diz que Kouriers são adolescentizinhos abusados que ficam poando nos veículos alheio pra pegar impulso em seus skates. Mas Y.T mostra que, apesar dessas descrições, é muito descolada e que essa profissão seria até legal de ter.
Protagonista também trabalha coletando informações úteis para a Biblioteca, e, dependendo do grau da informação, consegue uma quantia enorme de dinheiro. Essa habilidade será bem utilizada ao decorrer do livro. Pode-se perceber que o personagem é muito inteligente, não sendo à toa que ele é um dos poucos hackers que existem.
Quando um vírus ataca seu amigo Da5id no Metaverso e Realidade, Hiro vai em busca da origem deste e começa uma intensa jornada perigosa, já que ele também corre riscos por ser o alvo. Aos poucos, as pistas vão se encaixando e seu caminho cruza com uma antiga paixão, Juanita, e com O Corvo, um homem perigoso que está aparentemente vendendo uma droga chamada Snow Crash para as pessoas do Metaverso. Mais para frente, quando nosso herói descobre o que esse homem carrega em sua Harley é uma bomba nuclear, começará a entender como ele entrou nessa história e porque todos têm medo dele.
“De uma coisa ele sabe: o Metaverso agora se tornou um lugar onde qualquer um pode ser morto. Ou pelo menos ter seu cérebro ferrado ao ponto de não fazer diferença estar morto ou não. Esta é uma mudança radical na natureza do lugar. As armas chegaram ao Paraíso”.
Em buscas de novas informações que conectam as pistas que conseguiu, algumas perguntas começam a surgir a respeito desses dados como: Por que a linguagem humana tem se fragmentado e não transformado em uma língua comum? Achei essa questão bastante interessante e que aos poucos vai tornando-se importante na trama, e para mim também; involuntariamente, já tive questionamentos parecidos e que não encontrava respostas, então imaginem como fiquei extremamente curiosa para saber até onde iria essa questão no enredo da obra.
“– Computadores confiam no um e no zero para representar todas as coisas. Essa distinção entre alguma coisa e nada, essa separação fulcral entre ser e não ser, é fundamental e subjaz a muitos mitos de Criação”.
Hiro e Y.T acabam sendo uma dupla improvável, eles são tão diferentes em muitos aspectos, mas com habilidades que se complementam e são muito importantes para desvendar a origem do vírus Snow Crash. Além disso, os dois terão muito trabalho e uma grande mudança em suas vidas.
A medida que conhecemos esses personagens, fiquei querendo saber mais, principalmente sobre Hiro, que é mais velho que Y.T. Qual seria seu passado? Como ele conheceu o Metaverso? E por que sua relação amorosa com Juanita não deu certo?
É bastante curiosa e genial a origem do vírus; as analogias criadas pelo autor são brilhantes e envolventes. Eu confesso que nunca pensaria em tal ideia por ser minuciosamente bem elaborada, envolvendo múltiplos elementos como mitos, deuses, grandes cidades, a Bíblia, religião e o meio informacional até chegar nessa Realidade superdesenvolvida e altamente tecnológica.
Nesse livro, percebi que a informação é literalmente o poder, saber como controlá-la para benefício próprio pode trazer grandes eventos, novas tecnologias e formas de domínio. É uma teia bastante intrínseca que o vírus cria e seu poder é muito além do que os personagens pensavam. Ao descobrir que o Snow Crash não é apenas uma forma de derrubar os hackers, fiquei embasbacada com a genialidade do autor e em sua forma de entrelaçar as informações com um programa criado há cinco anos por um personagem sumério, mais precisamente um hacker linguístico, que era capaz de programar as mentes de outras pessoas com fluxos verbais. Estava simplesmente fascinada pelo rumo que a história estava tomando. Em vários momentos, tive que parar para digerir as novas descobertas e refletir as verdadeiras consequências.
“Não importa o quão inteligente fiquemos, há sempre uma parte irracional profunda que nos torna hospedeiros em potencial de informações autorreplicantes”.
Alguns personagens são destaques. Com tantas páginas, fica impossível não gostar de vários personagens e entre eles está claro Hiro, por ser tão sagaz e inteligente, Y.T., com seu jeito radical e rebelde, acrescentando inúmeros momentos de humor e descontração; só de lembrar começo a rir. De todos, ela foi a melhor personagem do livro. Corvo é um vilão tão habilidoso e corajoso e, por fim, Olho de Peixe, que aparecerá algumas vezes, mas que são importantes; ele é um homem engraçado, com um jeito todo machão, mostrando ser que é forte e sangue frio, seus diálogos com os personagens são os melhores e muito divertidos. Eles são os mais explorados do livro e digamos os mais importantes para tornar o livro uma obra primorosa.
No início, fiquei empolgada com as descrições e ideias do autor, porém a leitura torna-se cansativa em alguns momentos e tive que ler aos poucos para entender e não perder o interesse. O livro tem muitas descrições e informações que se tornaram maçantes. O autor poderia ter simplificado mais; em alguns momentos, inclusive, tive que reler alguns trechos para entender o que o autor estava querendo dizer. Por outro lado, gostei bastante da precisão que ele tem sobre os momentos de tensão, fugas e lutas, nesse quesito tenho que dar meus parabéns. Além disso, as ironias e escárnios utilizados deram um toque especial no livro e amenizou um pouco a densidade da história. Por ter quase quinhentas páginas, Stephenson cumpre o que promete com personagens únicos e verossímeis.
A Aleph fez um belo trabalho, a diagramação do livro está perfeita, encontrei poucos erros de revisão e a capa é simples, mas remete com facilidade a história abordada e você consegue lembrar que é a história de um hacker com sua katana. A tradução do Fábio Fernandes ficou ótima e percebi o trabalho que teve para tentar deixar o livro com uma linguagem difícil ser de fácil compreensão e próxima do que lemos.
Se você gosta de ficção cientifica, esse livro é uma ótima pedida, por ter uma premissa bastante instante, engenhosa e com altas doses de humor.