Título: As Esferas do Poder
Autor: William C. Gordon
Editora: Grupo Editorial Record
ISBN: 8501107778
Ano: 2016
Páginas: 252
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Sinopse:
Dois estranhos incidentes assombram São Francisco. Mas talvez eles não sejam apenas incidentes. Nos anos 1960, dois funcionários de uma indústria química sofrem uma grave intoxicação ao limparem um de seus tanques. Apenas um deles sobrevive, mas seu estado de saúde é crítico. Enquanto isso, em Chinatown, vinte e dois idosos do bairro morrem de forma inesperada e, segundo a perícia forense, todos eles beberam água mineral da mesma marca. Nas garrafas, uma quantidade mortal de arsênico. A princípio, o único elo entre esses acontecimentos é Samuel Hamilton, jornalista que está apurando os dois casos. Em sua busca pela verdade – e por um novo furo de reportagem –, ele irá se deparar com um complexo quebra-cabeça que revela uma rede de intrigas e lutas pelo poder na cidade.
Resenha:
1963, São Francisco, Estados Unidos da América. Dois funcionários da Conklin Chemicals estão limpando tanques de mistura de componentes químicos. O cheiro é desagradável e o ar faz os olhos queimarem. O primeiro começa a passar mal; o segundo entra em desespero. O socorro é rápido, mas não o suficiente para salvar o primeiro; ele acaba morrendo. Acidente ou homicídio?
Diversos idosos em Chinatown, São Francisco, morrem misteriosamente. A princípio, suas mortes são definidas como se fossem por causas naturais. Alguns parentes, obviamente, não acreditam nessa coincidência. Depois de muitos casos, uma família busca o auxílio das autoridades. Na análise laboratorial foi descoberta uma quantidade enorme de arsênico no organismo do idoso. Na água em que ele bebeu, arsênico também é encontrado.
Dois casos, aparentemente comuns, onde a única ligação é a cidade em que acontece. Será? Samuel Hamilton acredita que não. Ele vê crime nos dois casos; talvez, até, uma ligação. Contudo, o quebra-cabeça que se forma é grande demais, tornando difícil até mesmo comprovar que houve qualquer crime. O jornalista não desiste, porém, descobre que nada será tão fácil. Aparentemente, em algumas esferas de poder, as pessoas são sempre inocentes, independente do que façam.
“Que diabos aconteceu com você? – perguntou o legista, sentado junto a um esqueleto humano de verdade que ficava pendurado bem próximo a um quadro-negro. Do outro lado do quadro ficava sua galeria de fotos de famosos.– Conklin e seus advogados estão ameaçando me processar, só isso – disse o repórter, seu lábio inferior fazendo um beicinho.Cara de Tartaruga deu uma risada.– Você sabia que, nessa cidade, só é considerado um homem de verdade se já tiver sido processado pelo menos cinco vezes?” (p. 41).
Partindo dessa premissa, William C. Gordon desenvolve um suspense inteligente, ágil e cheio de crítica social. Em parte, a agilidade é garantida pela escrita do autor, que é leve e bem trabalhada, permitindo um bom desenvolvimento da obra. A inteligência do livro está diretamente relacionada à crítica social, visto que a obra apresenta a diferença de julgamento para ricos e pobres. Tendo uma certa quantidade de dinheiro e amizades específicas, é possível fugir de condenações, conseguir concessões e até mesmo caçar repórteres que não lhe agradam. A obra torna-se ainda mais interessante pois é possível fazer um paralelo com a realidade brasileira.
Os personagens, por sua vez, são convincentes. Apesar de não serem completamente profundos, possuem o mínimo necessário para parecerem reais e tornarem a leitura agradável. Samuel, o jornalista que investiga os casos, é o personagem melhor trabalhado. Aliás, é um personagem que já chega “pronto” para o leitor, visto que ele recebe um tratamento ao longo da série policial escrita por Gordon. Contudo, não se preocupe com esse detalhe; é possível ler a obra normalmente sem ler os anteriores. Afinal, os casos são independentes.
O único problema de todo o enredo, e que talvez nem incomode todos os leitores, é a forma da investigação. Em muitos momentos, algumas descobertas parecem ter sido feitas em base de suposições e acaso. Algumas ligações são tão tênues que qualquer investigador deixaria de lado; mas não o Samuel. Por um lado, isso demonstra determinação. Por outro, parece, em alguns casos, que Gordon quer forçar uma resolução que não cabe. De toda forma, isso não é exclusividade do autor. Quem é fã de livros policiais certamente já encontrou isso em diversas obras, inclusive em algumas que são consideradas clássicas do gênero.
“– Há tanto arsênico na água que nem sei o que dizer. Será que alguém estava botando veneno de propósito?” (p. 81).
Quanto à parte física, só há elogios. A capa é bonita e representa bem o lado mais sombrio da obra. A diagramação está boa e muito confortável, proporcionando uma ótima leitura. A tradução e revisão estão boas, como já é padrão da Record.
Em suma, As Esferas do Poder é um livro inteligente, ágil e que prende o leitor sem qualquer dificuldade. Apesar de uma falha ou outra, tem seus méritos. Uma ótima dica para quem está começando a desbravar livros policiais.