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Resenha: Nazistas entre nós

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Título: Nazistas entre nós
Autor: Marcos Guterman
Editora: Contexto
ISBN: 9788572449731
Ano: 2016
Páginas: 192
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Sinopse:

Os nazistas, responsáveis pelo Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial, foram exemplarmente punidos após a derrota alemã, certo? Não foi bem assim. Muitos desses carrascos desfrutaram o resto da vida em liberdade, em vários cantos do planeta, como se fossem parte da mesma sociedade civilizada que eles tanto se esforçaram em destruir. Eram vistos como vizinhos pacatos, cidadãos de bem. E isso só foi possível porque, aos olhos de muita gente, o “passado” deveria ficar no “passado”. É essa história de impunidade que o historiador e jornalista Marcos Guterman conta.

Resenha:

Quando se trata de um livro acadêmico ou com viés histórico, vale sempre a pena começar ressaltando a experiência de quem o escreveu. Marcos Guterman, brasileiro, é formado em história pela PUC e é doutor em história pela USP, além de especialista em nazismo e antissemitismo. Ademais, é jornalista profissional, com passagens longas no O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo. Um currículo de peso que gera também um livro de peso.

Também devido à formação tão boa do autor, Nazistas entre nós se mostrou um livro rico, inteligente, bem escrito, que prende quem lê. É um trabalho que pega o melhor da academia, que é o conteúdo de qualidade, e o melhor do jornalismo: a escrita mais leve e informativa. O autor sabe ser objetivo, sem perder o ritmo e o foco: trazer o máximo de conhecimento para o leitor. A obra se torna uma aula de história e sociedade, mas sem ser enfadonho, o que é um grande atrativo para leitores que não estão acostumados com a leitura de livros acadêmicos.


Contudo, apesar do bom trabalho, Nazistas entre nósé uma obra que dói. Não por falta de qualidade, é claro, mas pela realidade dolorosa que transmite. É chocante e beira ao trágico como pessoas que mataram centenas, milhares, continuaram impunes, soltas, sem terem enfrentado a justiça. Choca ainda mais terem sido recebidas por países desenvolvidas e abrigadas como “heróis”. Sim, nessa obra estamos falando dos nazistas, os de Hitler. Eles mesmos, assassinos, genocidas, ficaram livres, inclusive no nosso país.
“Assim como Soobzokov, milharesde cúmplices de Hitler puderam se instalar nos Estados Unidos depois da guerra e quase todos eles escaparam de prestar contas à Justiça – e ainda trabalharam não apenas para o serviço de inteligência, mas também para para o FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, então empenhados em caçar comunistas país afora, sob a chefia de J. Edgar Hoover” (p. 18).
Guterman nos apresenta trajetórias que de tão surreais parecem fantasia. Tivemos importantes nazistas do regime alemão que trabalharam, posteriormente, para o sistema de inteligência norte-americano. Pior, teve quem trabalhasse em importantes cargos da ONU. A experiência com tortura dos oficiais também foram aproveitas, seja pelos americanos que queriam caçar comunistas, seja pelas ditaduras na América no Sul. Ou seja, fica claro que, na concepção de alguns, matar é errado, a não ser que seja ao seu favor.

O autor também apresenta casos como o de Stangl, comandante assumido e confesso de dois campos de extermínio nazistas, os de Sobibor e Treblinka. Ele, apesar de assumir participação no regime alemão, se considerava inocente. Paul Stangl chega a dizer que, mesmo sendo comandante do campo de extermínio, nada teve a ver com o que acontecia lá.


Outro caso que chama a atenção na obra é o de Klaus Barbie, também conhecido como “o Açougueiro de Lyon”. Sua fama era de arrancar informações com facilidade, usar todo seu sadismo para criar novas técnicas de tortura e de interrogatório. Com o fim do regime nazista, Barbie ficou desempregado e livre no mercado. Em abril de 1947, acabou contratado pelos serviços de inteligência americanos. Um feliz fim para quem tanto matou inocentes.
“Para os americanos, blindar criminosos nazistas valia a pena, se isso representasse vantagem contra os comunistas” (p. 20).
Além do bom conteúdo histórico e fatos que nos fazem duvidar da tal racionalidade dos seres humanos, a obra também chama a atenção pela parte física. A capa é misteriosa e faz sentido dentro do conjunto da obra. A diagramação é simples, típica de livro acadêmico, mas extremamente confortável – algo raro em livros assim. A revisão está perfeita e a obra conta ainda com uma boa bibliografia, ajudando quem quer se aprofundar ainda mais no assunto.

Em suma, Nazistas entre nósé um livro que apesar de chocar, merece ser conferido. Se ignorar o passado não faz com que ele suma, devemos conhecê-lo para evitar que se repita. Marcos Guterman faz exatamente isso: nos faz refletir sobre o que passou, nos faz abrir os olhos, o que, sem dúvidas, é essencial para uma sociedade que quer se tornar melhor.




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