Título: As Imaginações Pecaminosas
Autor: Autran Dourado
Editora: Rocco
ISBN: 8532518354
Ano: 2005
Páginas: 160
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Sinopse:
Publicado pela primeira vez em 1981, As imaginações pecaminosas é um dos livros mais premiados da extensa carreira de Autran Dourado. Embora essa fantástica obra, composta por nove contos e um artigo de não-ficção, aparentemente não tenha a mesma relevância dos principais romances do mesmo autor, foi com ela que Autran Dourado conquistou o Jabuti de 1982 e o importante prêmio Goethe de literatura, oferecido pelo governo alemão.
Se engana, no entanto, quem acha que os pequenos textos aqui reunidos têm uma importância secundária, sem o vigor narrativo de Tempo de amar e a detalhada, lenta e paciente construção de personagem de A barca dos homens, colocando-os em pé de igualdade com os demais contos do autor. O que se observa nesse livro, na verdade, é o momento em que o ficcionista atinge o seu ápice, plenamente seguro de suas características e seu estilo, consciente da forma, das imagens e do ritmo que utiliza. O resultado não poderia ser outro: contos densos, precisos e envolventes, nos quais nada falta e nada sobra, construídos na medida certa, sem uma única palavra fora do lugar.
Resenha:
O povo de Duas Pontes possui uma imaginação incrível, porém, muitas vezes, as fofocas sussurradas ao pé do ouvido são verdadeiras. Essas imaginações pecaminosas são relatadas no livro de Autran Dourado, narradas pelo próprio povo, que assistiu a todos os acontecimentos e sabe dos seus pormenores. Com eles, vamos embarcar em histórias, algumas trágicas, outras curiosas, mas todas incríveis.
Conhecemos personagens diversos, como Vitor Macedônio, um homem rico, realizado, respeitado, mas que não soube esperar a sua hora certa de morrer. A paciência é uma virtude e essa não constava na lista de Vitor. O medo da morte o deixava receoso, afoito, querendo uma solução ágil, que não lhe era possível. O final dessa história? Ah, só o povo de Duas Pontes poderá te contar.
Porém, diferente de alguns livros de contos, aqui temos a continuidade; no texto seguinte, por exemplo, o protagonista é Valdemar Filgueiras, subordinado do senhor Vitor Macedônio. Neste conto conhecemos melhor esse personagem, indo além daquela face estereotipada. Conhecemos seus desejos, necessidades, anseios e os seus pecados; estes, aliás, que sempre trazem suas consequências.
“O mal de Vítor Macedônio foi não saber esperar a própria morte. Nisso não diferia do comum dos mortais, em que a regra geral é a impaciência. Poucos têm o ânimo necessário para aguardá-la, quando então tudo acontece naturalmente, como a queda de uma folha, a vinda do outono ou do inverno” (p. 14).
Essa continuidade inserida por Autran Dourado faz com que a obra tenha uma espécie de ar romanesco, apesar de ser escrito em contos. O povo vai emendando uma história na outra, fazendo com os contos sejam unidos, se não pela mesma história, por lugares comuns e personagens. Para quem tem maior dificuldade na leitura de contos, isso ajudará bastante, pois deixa a obra mais envolvente.
O autor também merece destaque por conseguir construir muito bem o lado psicológico em seus contos, explorando bem cada potencialidade dos protagonistas. Quem escreve contos ou os lê com frequência sabe o quanto isso é difícil, afinal, temos um número pequeno de páginas para uma carga tão grande, contudo, isso não intimida o autor. Ao contrário, Dourado mostra todo o seu talento ao talhar personagens reais, que realmente poderíamos conhecer.
É necessário também destacar a escrita da obra: densa, bem trabalhada, mas envolvente e até um pouco poética. Autran sabe como escrever de verdade; possui técnica e talento, gingado e muito conteúdo. As palavras ficam exatamente no lugar onde deveriam estar; a sua escrita é precisa, forte, parecida com a de grandes mestres que já passaram pela literatura brasileira. Isso, com certeza, explica os prêmios Jabuti e Goethe que faturou. Para quem tem um bom olhar, a sua prosa é apaixonante.
“Bem que diziam os antigos: só depois de morto é que se pode dizer se alguém foi feliz” (p. 30).
Quanto à parte física, restam apenas elogios também. A Rocco preparou uma edição bonita e confortável. A capa é bem artística e representa bem o clima da cidade Duas Pontes. A diagramação, por sua vez, apesar de simples, é bem confortável, gerando uma boa leitura. A revisão também está perfeita, não havendo do que reclamar.
Em suma, As Imaginações Pecaminosasé um livro bem escrito, forte, denso e que serve como uma excelente apresentação do autor. Sem dúvidas, uma obra que irá agradar quem gosta de boa literatura.
Outras fotos: