Ana Cristina Cesar é amada por alguns e odiada por outros; rejeitada por alguns críticos, mas adorada por todos os seus leitores. A verdade é que, amando ou não, é impossível ficar indiferente aos seus textos.
Abaixo, trago alguns textos dela:
Vacilo da vocação
Precisaria trabalhar – afundar –
– como você – saudades loucas –
nesta arte – ininterrupta –
de pintar –
A poesia não – telegráfica – ocasional –
me deixa sola – solta –
à mercê do impossível –
– do real.
houve um poema
que guiava a própria ambulância
e dizia: não lembro
de nenhum céu que me console,
nenhum,
e saía,
sirenes baixas,
recolhendo o resto das conversas,
das senhoras,
"para que nada se perca
ou se esqueça",
proverbial,
mesmo se ferido,
houve um poema
ambulante,
cruz vermelha.
sonâmbula
que escapou-se
e foi-se
inesquecível,
irremediável,
ralo abaixo.
I
Enquanto leio meus seios estão a descoberto. É difícil concentrar-me ao ver seus bicos. Então rabisco as folhas deste album. Poética quebrada pelo meio.
II
Enquanto leio meus textos se fazem descobertos. É difícil escondê-los no meio dessas letras. Então me nutro das tetas dos poetas pensados no meu seio.
Contagem regressiva
Acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos.
e amo em ti os outros rostos.