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Resenha: À Sombra da Figueira

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Título: À Sombra da Figueira
Autora: Vaddey Ratner
Editora: Geração Editorial
ISBN: 9788581302539
Ano: 2015
Páginas: 
360
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Sinopse:

Para a menina Raami, de sete anos de idade, o fim abrupto e trágico da infância começa com os passos de seu pai voltando para casa na madrugada, trazendo detalhes da guerra civil que invadiu as ruas de Phnom Pehn, a capital do Cambódia. Logo o mundo privilegiado da família real é misturado ao caos da revolução e ao êxodus forçado. Nos quatro anos seguintes, enquanto o Khmer Rouge tenta tirar da população qualquer traço de sua identidade individual, Raami se apega aos únicos vestígios de sua infância — lendas míticas e poemas contados a ela pelo seu pai. Em um clima de violência sistemática em que a lembrança é uma doença e a justificativa para execução sumária, Raami luta pela sua sobrevivência improvável. Apoiada no dom extraordinário da autora pela linguagem, Sombras da Figueira é uma história brilhantemente intricada sobre a resiliência humana.
Finalista do Prêmio PEN Hemingway este livro vai levá-lo às profundezas do desespero e mostrar horrores abomináveis. Vai revelar uma cultura maravilhosamente rica, lutando para sobreviver através de pequenos gestos,. Vai fazer com que jamais sejam esquecidas as atrocidades cometidas pelo regime Khmer Rouge. Vai lhe encher de esperança e confirmar o poder que há ao se contar uma história de nos elevar e nos ajudar não somente a sobreviver, mas à transcendência do sofrimento, da crueldade e da perda.

Resenha:

Muitas vezes me parece que a literatura floresce bem perto da sua beleza máxima nos momentos de muita dor. Podemos conferir isso em diversos clássicos da literatura clássica e contemporânea. Em À Sombra da Figueira, comprovamos isso mais uma vez: da dor nasce a boa literatura.

Nessa obra, conheceremos o mundo através dos olhos de Raami. Ela é ainda uma criança, apesar de não ter uma vida como a de todas as outras. A menina faz parte da família real, o que torna sua vida um pouco melhor. Porém, isso não a livra do que estaria começando: uma guerra civil no seu país natal, o Camboja. Com o início do enfrentamento, ela sofreria consequências nefastas.


Nesta guerra, temos de um lado um grupo com o apoio dos norte-americanos e, do outro, o grupo comunista. Aliás, algo típico em praticamente todas as guerras do período. O pai de Raami, a princípio, parece apoiar o regime vermelho, visto que lhe dá a sensação de ser mais humanitário e de buscar o bem de todos. Porém, quando se está em estado de guerra, a realidade é muito diferente.
“– Você já acreditou neles.Eu me perguntava que tipo de raça era.– Não, não neles. Não nos homens, mas nos ideais. Decência, justiça, integridade... Eu acreditava nisso , e sempre acreditarei. Não só para mim, mas para nossas filhas” (p. 24).
A família real começa a perceber isso quando pessoas chegam a sua casa e os mandam sair. Estavam sendo retirados de sua própria casa, com ordem de levar apenas o que pudessem carregar. Era para ser temporário, mas foi apenas o início de um longo drama que se seguiria por um bom tempo.

A partir dessa premissa, Vaddey Ratner cria um livro tocante e que fala à alma do leitor. Através de cada detalhe e de cada sofrimento que acometeu muitas pessoas naquele período, somos levados a refletir sobre a realidade da guerra, sobre como a vida, a liberdade e a felicidade são artigos raros e frágeis. Isso deixa a obra com uma delicadeza toda especial que certamente ganhará aos leitores que curtem obras com maior apelo emocional.


Outro ponto extremamente positivo da obra foi a possibilidade de conhecer uma nova cultura; no caso, a cambojana. Sem ensinar diretamente, a autora nos faz desbravar costumes, lendas e mitos. Ademais, ainda é possível aprender uma quantidade significava de fatos sobre a história do país, visto que o livro possui um profundo embasamento histórico, tornando todo o enredo mais real.
“A ausência é pior que a morte. Quando se desaparece subitamente sem deixar rastros, é como se nunca se houvesse vivido” (p. 28).
Vale destacar também a qualidade dos personagens criados, em especial a Raami. Vaddey deu uma carga psicológica enorme a personagem, o que não é tão comum na literatura, visto que a protagonista é uma criança. Devido a isso e aos diversos problemas enfrentados, acompanhamos um amadurecimento que consegue ser belo, apesar da dor. Isso, somado com os elementos anteriormente mencionados, forma uma obra acima da média.

Quanto à parte física, o livro também merece elogios. A capa é simples, mas bela e chamativa. A diagramação é trabalhada e dá um aspecto visual elegante para a obra. A revisão e tradução estão boas, como já é padrão da editora. Ou seja, tudo contribui para uma ótima leitura.


Vaddey Ratner cria, com base em todos os elementos já mencionados, uma obra marcante para o leitor e mostra-se como um nome para ser acompanhado de perto. Ainda ouviremos falar bastante dela. Obra mais do que recomendada.





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