Sinopse:
Ler este livro é algo obrigatório para todo deputado, senador, ministro, juiz, desembargador, governador, presidente, secretário, prefeito, vereador. E sobretudo para o eleitor. Para ele, é quase um guia de sobrevivência na selva da política brasileira. Claudia Wallin trata da Suécia mas é impossível não pensar no Brasil a cada parágrafo. Com cinismo, cólera, amargura. Ou com esperança. Porque não? Afinal, prova que existem políticos que desconhecem o tratamento de “Excelência”. Que não tem mordomias, não aumentam seu próprio salário, não tem gabinete próprio. Que usam transporte público e não estão na vida pública para fazer fortuna. E que respeitam – e muito -- o eleitor. Um sistema apoiado em três pilares: transparência, escolaridade e igualdade. Um dia, quem sabe, chegaremos lá. Ler e se envergonhar com estas páginas pode ser o começo.
Resenha:
Pare tudo o que você está fazendo e reflita: que país é este que estamos vivendo? Aliás, que país é este que a maioria vegeta, enquanto os deputados, senadores, ministros, presidentes, prefeitos e vereadores vivem?
Muitos, geralmente, não querem falar de política, acham o assunto chato, fútil e sem necessidade alguma de ser tratado. Dentre esses que pensam isso, muitos preferem falar de futebol, de novelas, de festas e coisas que não consideram como desnecessárias. No entanto, se partirmos para refletir: quem são as pessoas que pagam os jogadores de futebol? Quem paga os presidentes das Federações? Quem é que paga as redes de Televisão, para que estas depositem o dinheiro na conta dos atores? Quem é que paga as entradas em festas, os cachês das bandas, as bebidas fornecidas em camarote VIP e, automaticamente, gera lucros para as empresas dessas marcas?
A resposta está clara e a busca por ela é conivente. Nós quem pagamos tudo isso e, mesmo gostando de novelas ou não, mesmo curtindo futebol ou não, estamos contribuindo para que isso gere lucro a eles. Os impostos que pagamos favorecem a todos e por que não os políticos? Por que não falar deles? Afinal, eles são os principais interessados em criar taxas, já que nossos impostos aumentam por culpa de quem está no poder. Não é mesmo?
E se você soubesse que existe um país em que os políticos ganham pouco, andam de bicicleta, de ônibus, trem, cozinham sua própria comida, lavam e passam suas roupas e, ainda, estão preocupados com o bem estar da sociedade? Está pensando que me refiro a alguma obra de distopia? Não, leitores, esse país existe e se chama Suécia.
“O que mais me despertou a atenção para este país singular, que há dez anos é o país onde vivo, foi a ausência de esquizofrenia nas relações entre o povo e o poder. Em outras palavras, um povo que trata seus governantes e representantes como cidadãos, e vice-versa. Um país sem Excelências” (p.21).
Logo na Idade Média, os camponeses do país tinham representação entre a nobreza, clero e a burguesia reunida no Parlamento. A sociedade, no ano de 1960, aboliu os pronomes formais e os políticos passaram a ser tratados como você; vossa excelência passa longe desse país. Não existe preferência a penas especiais por crimes, eles não têm direito à imunidade. Com isso, podem ser processados e condenados como qualquer cidadão. Ainda, eles não possuem plano de saúde especial, apenas utilizam o sistema público.
Até o século XIX, a Suécia foi um dos países mais pobres da Europa. A partir do século seguinte, ela transformou-se em uma das mais ricas e sofisticadas nações industrializadas do mundo. O povo sueco busca a transparência e visa políticos que estejam conectados às ruas, que estejam ligados à sociedade para que a resolução dos problemas tenha mais solidez.
Enquanto isso, no Brasil...
Com grande frequência, ministro e parlamentares voam em jatinhos da FAB – Força Aérea Brasileira. Possuem carro com motorista particular e ganham verbas altíssimas para tudo.
Enquanto na Suécia a política é sinônimo de solidariedade, de meios para contribuir com a sociedade e buscar medidas igualitárias; no Brasil a política é sinônimo de poder, prestígio e inúmeras mordomias.
“Esta é uma sociedade que elege políticos mais próximos da realidade e das dores do cidadão comum. Políticos que, em geral, não colocam a vaidade ou os interesses próprios ‘na frente dos bois’, em uma sociedade que mostra que o exercício da função pode ser digno” (p.30).
Os representantes têm uma vida de luxo e regalias, porém, esquece-se que eles estão representando o povo. Logo, devem viver de maneira condizente ao que vivemos e não totalmente oposta aos cidadãos. Se ao menos esse luxo exacerbado fosse sinônimo de eficiência, seria até aceitável, mas não o é. Os investimentos não representa qualidade por parte deles e, então, a massa de legisladores continua com uma vida regada de mordomias, enquanto a sociedade banca o banho de ouro que eles tomam.
A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou, no ano passado, que o Brasil possui o segundo Congresso mais caro do mundo. Cada parlamentar gasta em média US$ 7,4 milhões por ano. O país só perde apenas para os Estados Unidos que tem um gasto de US$ 9,6 milhões.
Não se nota resultados promissores por parte dos parlamentares; pelo contrário. Estima-se que, a cada dez legisladores, quatro respondem a inquéritos ou processos, o que dá em torno de 542 ações penais.
Se já não bastassem esses valores exorbitantes, os deputados recebem um salário em torno de R$ 26.700 e mais R$ 38.600 para custear as despesas referentes às suas atividades no poder. Essas contas correspondem também a carros alugados, passagens aéreas, telefone e aluguel de salas de escritório. Como se ainda fosse pouco, os parlamentares ainda recebem na faixa de R$ 3.800 para pagar as diárias em hotéis para ir a Brasília.
“Quero ser um indivíduo entre outros indivíduos, e não alguém tratado como uma pessoa extraordinária” (p.31 – Fredrik Reinfeldt).
Ao lermos esse livro, é impossível não comparar o céu ao inferno, quer dizer, Suécia ao Brasil. A maneira como os políticos realizam a politicagem, de forma íntegra, é estupenda e de causar admiração. Enquanto que aqui a corrupção predomina, a ânsia por querer sempre mais e, inclusive, a ambição e competição entre eles mesmos.
A capa em si já é bastante chamativa com o ministro Carld Bildt indo ao seu gabinete de bicicleta, enquanto que, logo atrás, notamos o ministro Carlos Lupi desembarcando de um avião particular. Qual a diferença entre eles? Bem... Está mais do que clara.
A diagramação do livro é excelente, com imagens e entrevistas em destaque. Notei alguns erros de revisão, mas não foi nada grave. Outro detalhe da capa é que eles se dedicaram à bandeira da Suécia, o que ficou bastante criativo, combinando ainda com a bicicleta do ministro.
Indico esse livro a todo ser que respira, é imprescindível que todos tenham essa obra em sua cabeceira. Conhecer as maravilhas da Suécia e as atrocidades do Brasil é fundamental para que se busquem melhorias comparando-se a grandes países. Afinal, comparar o Brasil com países pobres, com baixo índice de desenvolvimento e onde a corrupção é exacerbada, isso é fácil. Mas comparar e se espelhar em um país do porte da Suécia, essa é uma tarefa e tanto.
“Como todos os juízes e desembargadores da Suécia, Göran Lambertz não tem direito a carro oficial com motorista, nem secretária particular. Sem auxílio moradia, todos pagam do próprio bolso por seus custos de moradia” (p.125).
Parabéns para a autora Claudia Wallin que teve a ousadia e curiosidade de desbravar a ideia de escrever esse livro. Uma brasileira que partiu rumo à Suécia e viu que era fundamental essa publicação. Parabéns também à Geração Editorial por, cada vez mais, publicar riquíssimos trabalhos que devem ser valorizados. Esse livro é para ser lido para ontem. Mais que indico!
Título: Um país sem excelências e mordomias
Autora: Claudia Wallin
ISBN: 9788581302379
Editora: Geração Editorial
Ano: 2014
Páginas: 344
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